Comércio de Amizades

Enquanto eu me trocava nessa manhã, assistia a um telejornal.
No intervalo, surgiu uma chamada do Programa Mais Você, da Ana Maria Braga, que apresentava como matéria principal: pague para ter um amigo.
De imediato parei o que eu estava fazendo, olhei para a TV e prestei atenção, pois até achei que eu tivesse escutado errado, tamanho o absurdo. Mas infelizmente era aquilo mesmo, com a maior naturalidade e até mesmo empolgação, a apresentadora incentivou esse comércio, fazendo um pequeno discurso sobre jovens que pagam alguém para serem acompanhados em baladas, shoppings, jantares, ou seja, para ter um amigo.
A palavra amizade, no dicionário, significa afeição recíproca entre entes; boas relações. Para mim, a amizade é a troca de informações, carinhos, atenção, é o companheirismo, pode até mesmo existir brigas, para melhorar esse relacionamento tão prazeroso... mas nunca, em hipótese alguma, pode existir uma troca monetária para tudo isso acontecer.
Esse relacionamento deve existir pura e simplesmente porque ambas as partes desejam, gostam da presença um do outro em sua vida, e não do dinheiro que o outro pode lhe trazer.
É engraçado, pois enquanto as redes de relacionamentos só aumentam ( Orkut, MSN, twitter, salas de bate-papo e etc ), as pessoas se distanciam cada vez mais e se sentem mais solitárias. Ao ponto de precisarem pagar alguém para ter companhia para ir ao cinema, por exemplo!
Imaginem a situação: você está em sua casa, na internet, falando com milhares de pessoas ao mesmo tempo. Uma está a 10 KM de você, outra a 25KM, outra a 100KM, outra a 300KM. Com vontade de ir tomar uma cerveja e trocar uma idéia com alguém ( de carne e osso, à sua frente ), você faz convites, porém quem mora mais próximo não pode, o outro não quer, um outro não gosta de sair, enfim, sem ter uma companhia, você liga para um número e chama aquela pessoa super bacana, que nunca lhe fala não, pois está sempre disposto para lhe dar a atenção que precisa naquele momento e em tantos outros.
A princípio parece bacana, pô, legal ter alguém sempre ali para lhe escutar. Mas, no final, além da conta do bar, você paga a conta do seu “ amigo”!
Você volta para casa, dorme e no dia seguinte, se quiser falar ou encontrar com o mesmo “ amigo”, terá que desembolsar mais uma quantia...
Você conseguiria viver assim????
Não sentiria falta de receber aquela ligação, daquela pessoa que não vê há tempos, lhe chamando para um encontro, um bom papo?
Não sentiria a falta de receber um torpedo daquele amigo avisando que será papai??
Não sentiria falta daquele jeito caipira de falar que só aquela amiga tem?
Não sentiria a falta de receber um e-mail de um amigo que fora para os EUA fazer um intercâmbio?
Não sentiria a falta de aconselhar seu amigo, num momento de tristeza?
Não sentiria a falta de enxugar as lágrimas do amigo em apuros?
Não sentiria a falta de receber os parabéns dessas pessoas mais que queridas, em seu dia especial?
Eu não sei se sou eu que vivo fora da realidade, ou se é este mundo que “ está por fora” do que realmente importa nessa vida.